Publicado em: 03/06/2021
A pandemia do COVID-19, causada pelo Vírus SARS-CoV-2 representa um desafio sem precedentes para o sistema de saúde. O COVID-19 tem como características um estado de hiper-inflamação conhecido como “Tempestade de Citocinas” que leva a severas complicações, micro-tromboses e coagulação Intravascular Disseminada.
O número de pacientes afetados cresce diariamente, em 27/03/2021 o número de casos no Mundo somavam 126 milhões e 2,7 milhões de mortes, com 71,6 milhões de pacientes recuperados, cresce a atenção para sequelas que se desenvolverão a longo prazo após a recuperação. A disfunção erétil é uma das sequelas que pode acometer pacientes que foram infectados, especialmente naqueles mais idosos.
E quais são as maneiras que a COVID-19 pode levar a disfunção erétil?
Basicamente através de 6 formas:
- Metabolismo da testosterona
- Lesão nos vasos sanguíneos que promovem a erosão
- Alterações cardíacas
- Alterações testiculares
- Alterações psicológicas
- Pulmonares
1) Testosterona
A testosterona é o hormônio masculino que entre outras funções é responsável pelo desejo sexual. Já está bem estabelecido que o vírus da COVID-19 se liga ao receptor de enzima conversora da angiotensina 2 (ECA-2). Tais receptores estão também presentes nas células de Leydig que são as responsáveis pela produção de testosterona no testículo. O vírus da COVID-19 leva a um dano testicular que em última instância promove o decréscimo das taxas de testosterona. Ainda não foi estabelecido se esse estado de baixo testosterona é transitório ou permanente.
2) Lesão nos vasos que promovem a ereção
É essencial para que a ereção aconteça que os vasos sanguíneos que levam o sangue até o pênis estejam íntegros. O problema é que o vírus da COVID-19 causa o aumento de substâncias inflamatórias que levam a lesões nas paredes internas desses vasos. Tais lesões causam diminuição no fluxo sanguíneo dificultando o processo de ereção.
3) Cardíacas
O COVID-19 pode afetar também o coração levando a miocardites, arritmias e eventos agudos cardiovasculares. Desta forma a função erétil também fica comprometida. O próprio tratamento de tais consequências também prejudicam a função erétil como o uso de medicamentos anti-hipertensivos como os betabloqueadores.
4) Reprodutivas
Um outro motivo de preocupação é o dano testicular que a infecção por COVID-19 pode promover na questão reprodutiva. O receptor da enzima conversora de angiotensina (ECA-2), que é por onde o vírus infecta o hospedeiro, é altamente presente nas células testiculares. As células testiculares são: Células de Sertoli (células responsáveis pela formação dos espermatozoides) Células de Leydig (produção de testosterona). Em resultados de necrópsias foram identificados lesões nos túbulos seminíferos testiculares apesar de não ser identificado o vírus.
5) Psicológicas
Taxas aumentadas de desordem de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade são observados nos pacientes que passaram pela infecção do COVID-19. Já existem estudos que estabelecem graus similares de sofrimento psicológico nos pacientes sobreviventes do COVID-19 e nas vítimas dos ataques de 11 de novembro ou até mesmo de terremotos.
Várias causas são apontadas como geradores de estresse: o confinamento, distanciamento social, perda de familiares e amigos, consequências econômicas promovidas pelos lockdows e a própria doença. A atividade sexual está intimamente relacionada com a saúde mental e psicológica. Não traz surpresa que o desejo e a frequência sexual tenham declinado em ambos os gêneros durante a pandemia. Adicionalmente, o estado de baixa testosterona reportado com o COVID-19 pode levar a uma piora no desejo sexual e também no humor.
6) Pulmonares
Tem sido aventado que a fibrose pulmonar poderá ocorrer após a infecção pelo COVID-19. A suspeita advém pela análise do surto de vírus SARS-CoV em 2002 onde a fibrose foi constatada após um longo período de acompanhamento dos pacientes que foram infectados. A fibrose pulmonar levaria a uma hipóxia crônica diminuindo a disponibilidade de oxigênio. O oxigênio é um uma das substâncias para síntese de óxido nítrico através da enzima chamada óxido nítrico sintetase. O óxido nítrico tem papel fundamental no processo de ereção.
Conclusão
Há razões suficientes para suspeitar que a saúde sexual e reprodutiva possa estar afetada naqueles pacientes que foram infectados pelo COVID-19 tanto no curto quanto no longo prazo. Exames diagnósticos como Ultrassonografia com Doppler peniano e avaliação do eixo hipotálamo-pituitária-testicular serão necessários para avaliação da extensão que o COVID-19 pode ter causado. Intervenções psicológicas também serão necessárias para os pacientes com disfunção erétil.